Jornal do Brasil – ponto final de uma história centenária
Considerado um marco da imprensa nacional, JB põe fim à sua edição impressa a partir de 1º de setembro.
Hoje me afastei dos temas que recursivamente são publicados em nosso blog para falar de uma entidade que nos deixa. Depois de tantos serviços prestados ao país por mais de um século, nesta quarta-feira, 1, a versão impressa de um dos jornais mais tradicionais do Rio, o Jornal do Brasil, deixará de circular em papel. Fundado em 1891 mas em longa agonia financeira agravada por processos trabalhistas, o bom e velho JB, berço de notáveis jornalistas que marcaram época, sairá de vez do papel, tornando-se o primeiro jornal 100% digital do país.
Para tantos brasileiros, como eu, que se acostumaram a ler o noticiário objetivo e as análises de conteúdo de seus jornalistas, como os grandes Barbosa Lima Sobrinho e Carlos Castelo Branco, entre tantos outros expoentes da história do jornalismo pátrio, o fim da edição impressa do Jornal do Brasil deixa um vazio difícil de ser preenchido. O Rio é hoje dominado pelo O Globo, praticamente sem concorrência, reduzindo-se a opção dos leitores a cada dia que passa.
Ao longo dos seus 119 anos de história, o Jotinha, como é chamado carinhosamente por aqueles que passaram por sua redação, representou a ambição profissional de uma geração, tendo um papel de destaque na cobertura política, especialmente durante o governo militar. O JB se destacou particularmente na corajosa cobertura da promulgação do AI-5, ato institucional que suspendeu garantias constitucionais do país. Em meio a pesada censura da época, o protesto contra o decreto veio na forma de um boletim meteorológico.
"Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos". Uma forma inteligente de dar o recado.
Ainda me lembro acordando cedo para comprar o JB, a única cobertura independente durante a ditadura. Sempre que uma matéria era censurada, o Jornal saía com pedaços em branco em uma demonstração de que naquele espaço deveria ter uma matéria que alguém julgou inadequada aos leitores.
Ainda me lembro acordando cedo para comprar o JB, a única cobertura independente durante a ditadura. Sempre que uma matéria era censurada, o Jornal saía com pedaços em branco em uma demonstração de que naquele espaço deveria ter uma matéria que alguém julgou inadequada aos leitores.
Depois de investir em novos equipamentos no fim dos anos 1950, o jornal empreendeu uma reforma gráfica que se tornou referência, com a implantação da diagramação vertical e a valorização dos espaços brancos das páginas. Como consequência, viveu longo período de pujança e prestígio, que lhe aumentara substancialmente a tiragem e os anunciantes.
Também na parte cultural, o Jornal do Brasil foi um grande inovador, lançando um suplemento literário, o Ideias, que revelou alguns dos principais poetas e escritores do país. No fim dos anos 1980, o jornal era imbatível, vendendo mais de 180 mil exemplares por dia, 250 mil aos domingos.
Hoje os boatos se concretizam e o conteúdo do JB, símbolo do jornalismo de qualidade do século passado, fica disponível apenas pela internet, com custo de assinatura mensal. Fecha-se, sem dúvida, uma das mais belas páginas do jornalismo brasileiro. E aumenta o terrível deserto jornalístico que vivemos depois da ascensão de O Globo, um Jornal situacionista, independente de quem esteja na situação.