Mostrando postagens com marcador Economia Mundial. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Economia Mundial. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 30 de abril de 2013

Adeus, mentes brilhantes


A história do indiano Kunal Bahl poderia ter sido mais um exemplo do “sonho americano”. Com quase 20 anos, o emigrante deixou a sua cidade natal, Nova Deli, para estudar Engenharia na Universidade da Pensilvânia e fazer um MBA na escola de negócios Wharton, ou seja, em duas das mais prestigiadas dos Estados Unidos. A solidez do currículo levou-o para a Microsoft, onde o engenheiro se dedicava ao desenvolvimento de negócios em mercados emergentes. Bahl seguia uma carreira de sucesso quando foi surpreendido por um duro golpe: em 2007, o seu visto de trabalho expirou e ele não conseguiu a renovação. Sem qualquer garantia de conquistar uma permissão permanente — o chamado green card —, Bahl foi obrigado a regressar à Índia. Tal como muitos estrangeiros e qualificados que estudaram nos Estados Unidos, o sonho americano do engenheiro acabou por ser interrompido na mesa dos burocratas da emigração do país.
A história de Bahl, porém, teve um final feliz, e irónico. De volta à Índia, Bahl analisou os modelos de negócio vencedores da internet e decidiu lançar, em 2010, o site de compras colectivas Snapdeal, uma espécie de Groupon indiano. O sucesso do negócio foi estrondoso. Em três anos, o site já é considerado o líder do comércio electrónico do país, com 18 milhões de utilizadores. A cada dia, 25 mil produtos são vendidos através do portal e distribuídos em 4 mil localidades. A ironia é que o único emprego protegido pela emigração americana — a vaga de Bahl na Microsoft — transformou-se em 1500 postos criados pela Snapdeal na Índia.
Clique para ampliar a imagem
Os Estados Unidos sempre foram um país aberto a estrangeiros. No final do século xix, 12 milhões de emigrantes desembarcaram na “terra da oportunidade”. Foi essa mão-de-obra que ajudou a impulsionar a industrialização americana e fomentou o surgimento de inúmeros negócios. Esse ambiente de prosperidade perdurou durante décadas. Mas, desde os ataques terroristas de 11 de Setembro, os Estados Unidos têm endurecido as regras para o trabalho de estrangeiros. “Um erro descomunal”, como tem afirmado Vivek Wadhwa, professor da Universidade de Duke e um dos mais entusiasmados defensores da teoria segundo a qual os Estados Unidos, para sair da crise, deveriam facilitar, e não dificultar, a entrada e a permanência de estrangeiros altamente qualificados no país. Wadhwa é juiz em causa própria, dado que é um emigrante indiano, formado em Ciências da Computação, pela Universidade de Camberra, na Austrália, e radicado nos Estados Unidos desde a década de 80. Trabalhou em empresas como a Xerox — na altura, uma das mais inovadoras do país — e fundou duas empresas de software antes de se tornar professor e consultor. As suas ideias são discutidas no livro The Immigrant Exodus, que foi considerado pela revista The Economist o melhor de 2012. O timing não poderia ser mais oportuno, dado que Obama já anunciou a disposição de mudar a lei. “Alguns líderes políticos esforçam-se por manter os melhores talentos do mundo fora dos Estados Unidos, acreditando que os emigrantes qualificados roubam trabalho aos americanos”, defende. “Mas na verdade sucede exactamente o contrário. Os emigrantes criam empregos.”
Vários estudos, a mesma conclusão
Em tempos de crise e de desemprego elevado, é natural que os emigrantes sejam encarados como uma ameaça para o emprego dos locais. Os estudos apresentados no livro de Wadhwa provam que isso até pode ocorrer nos postos menos qualificados e com menores salários. Mas no caso dos emigrantes qualificados o impacto no mercado de trabalho é claramente positivo. Um outro estudo conduzido pelo professor William Kerr, da Universidade Harvard, teve o mesmo desfecho. A equipa concluiu que os emigrantes qualificados não provocaram nenhum impacto no nível de emprego de cientistas ou engenheiros nascidos nos Estados Unidos. Pelo contrário, o estudo prova que eles tiveram um papel importante no nível da inovação gerada no país. Segundo Kerr, um aumento de 10% na concessão de vistos do tipo H-1B — permissões temporárias para trabalhadores com licenciatura — resulta no crescimento de 1% no número de invenções patenteadas.
Os estudos de Wadhwa, por seu turno, demonstram que por cada 100 estrangeiros licenciados nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia ou matemática, 262 empregos são criados. No Vale do Silício — berço de gigantes como a Apple e a Google —, 44% das empresas fundadas desde 2006 tinham pelo menos um estrangeiro como sócio. O que preocupa os académicos é que essa percentagem está a cair todos os anos.
Obama vai alterar a lei da emigração
Clique para ampliar a imagem

Bahl, do Snapdeal: ele regressou à Índia 
e fundou o maior site 
de comércio electrónico
Uma parte da explicação para o problema levantado pelo livro de Wadhwa está nas dificuldades crescentes para os estrangeiros se radicarem nos Estados Unidos. Um estudo do Instituto Brookings demonstra que o número de vistos H-1B concedidos em 2011 foi 20% menor do que há dez anos, embora o número de pedidos tenha crescido 17%. Durante a última década, o governo americano reduziu o limite de emissão de novos vistos desse tipo de 195 mil para apenas 85 mil por ano. Outro problema está na burocracia: obter um green card por razões de trabalho pode demorar mais de uma década. Nos Estados Unidos, o limite de emissão de novos vistos de residência nessa categoria é de 140 mil por ano. Na Austrália, que tem um décimo da população americana, são 126 mil por ano. Outros países como Canadá e Singapura não têm limites. Pelo contrário, lançam anúncios para o recrutamento de estrangeiros altamente qualificados no exterior.
Enquanto estão no limbo entre a permissão temporária e a permanente, os emigrantes preferem não arriscar. Não estabelecem raízes, não compram imóveis, não começam negócios próprios. Políticos com peso no cenário político americano como Michael Bloomberg, governador de Nova Iorque, têm erguido a sua voz em defesa da mudança da lei. “Não há solução mais rápida e barata para a retoma da economia do que atrair emigrantes qualificados para o país.” Obama já confirmou que anunciará, em breve, um plano de reforma do sistema de emigração de modo a que 11 milhões de trabalhadores ilegais possam obter a cidadania. A reforma também beneficiará os estrangeiros qualificados, facilitando a sua permanência no país. O tema, recorde-se, fez parte da campanha eleitoral do Presidente. “O nosso sistema diz para os melhores estudarem aqui. Mas depois manda-os embora e eles abrem empresas noutros lugares. Não podemos dar-nos ao luxo de afastar essas mentes brilhantes”, disse na altura. Em breve saberemos se ainda não esqueceu dessas palavras.
The Immigrant Exodus 
Editora  Wharton Press, 106 páginas  
Autor  Vivek Wadhwa
A minha pesquisa feita em 2007 dizia que havia 1 milhão de emigrantes qualificados à espera do green card. Na altura dizia que se não mudassemos a lei de emigração eles iriam embora. Hoje, eles foram mesmo embora.

sábado, 17 de novembro de 2012

O Brasil no labirinto chinês


Por José Casado, O Globo

Foi um evento raro: nunca antes na História a burocracia do Partido Comunista Chinês havia sido exposta como foi nesta semana. Redes de televisão investiram em horas de transmissões diretas de Pequim para apresentar os discursos de Hu Jintao, futuro ex-presidente, e de Xi Jinping, seu sucessor, e para detalhar o perfil dos sete chefes do Comitê Permanente do PCC, epicentro do poder político, econômico e militar do país. Foi um espetáculo sem surpresas, planejado para expressar a naturalidade com que a China percebe seu retorno à posição de liderança, perdida há século e meio.
A 18 mil quilômetros de distância, o eco da transição no PCC pode ter confortado governantes sul-americanos, beneficiários políticos do crescimento chinês que há nove anos sustenta nas alturas os preços das matérias-primas e fomenta uma expansão econômica em escala inédita no continente desde a II Guerra Mundial.
O discurso do herdeiro Xi ("Seguiremos com o processo de abertura", garantiu) soou como música em lugares como o Palácio do Planalto, em Brasília, ao sinalizar medidas anticrise para conservar a China na liderança do crescimento mundial. Pela calculadora de Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, o país já compra quase metade da produção global de ferro, cobre, alumínio, níquel, cimento, aço e ovos.
Há indícios de que a América do Sul está se despedindo desse ciclo de fartura, sustentado pelo avanço do consumo chinês de matérias-primas na última década. O experiente Julio María Sanguinetti, historiador e ex-presidente do Uruguai (em dois períodos, 1985-1990 e 1995-200), tem chamado a atenção para o desvanecimento "destes anos gloriosos de bonança, cujo mel adoçou o consumo popular e engordou o gasto fiscal; sem traumas, por enquanto, mas com a sensação algo frustrante de que a festa vai chegando ao fim e não restará muito para o dia seguinte".
No caso do Brasil, grande beneficiário dessa bonança, é notável a rarefeita inquietude com o futuro das relações com a China. O relacionamento Brasília-Pequim está refém de números suntuosos - desde julho, a China é o maior parceiro comercial, reflexo de um processo de crescimento que, desde 2000, multiplicou por oito os negócios de fornecedores brasileiros com seus compradores chineses. Mas assim como não formulou uma estratégia para entrada no mercado chinês, o Brasil se mantém sem nenhuma para prosseguir, ou aprofundar essa aliança ou, ainda, reduzir gradualmente a sinodependência.
Oito de cada dez dólares obtidos no comércio com a China provêm das exportações de soja (38,7%), ferro (32,6%) e petróleo (9,8%), segundo dados do governo brasileiro em relação ao período janeiro-agosto.
É o resultado de um comércio intensivo, mas restrito a vendas de produtos primários e com a contrapartida de importações brasileiras de bens chineses de baixa qualificação, em termos de conteúdo tecnológico. "A baixa intensidade de tecnologia avançada nas importações provenientes da China sugere escasso potencial para beneficiar-se de um 'derrame tecnológico'", notam pesquisadores como Tatiana Didier e Augusto de la Torre, que no ano passado devassaram para o Banco Mundo o conteúdo do comércio da China com países da América Latina (disponível em http://siteresources.worldbank.org/LACINSPANISHEXT/Resources/Annual_Meetings_Report_LCRCE_Spanish_Sep17F.pdf).
Há nuvens no horizonte chinês. Há, também, evidências do declínio do crescimento econômico do Brasil (recuo de 7,5% em 2010 para 1,6% neste ano, segundo o Banco Central).
São fatos que deveriam estimular o governo brasileiro a refletir sobre uma mudança de rumo nas relações com a China, para ultrapassar a fronteira do comércio de produtos primários e ampliar as possibilidades de mútuos benefícios tecnológicos.
O labirinto da sinodependência talvez seja, hoje, a principal ameaça àquilo que se costuma definir como "soberania nacional".

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Os riscos de ter a China como modelo industrial a ser seguido


Este Post poderia ter como título "As contradições do capitalismo moderno", onde todos querem cada vez ganhar mais, consumir muito de forma voraz e irresponsável e ... pagar cada vez menos por produtos". A conta não fecha. 
O crescimento anual do PIB da China é fantástico, mas ao mesmo tempo preocupante: ocorreu de forma muito concentrada e acelerada nos últimos dez anos.
Segundo  empresários brasileiros, é arriscado manter todo o investimento em produção centralizado na China, quando o ideal seria investir-se mais em produtos nacionais.
O ponto de vista é interessante e nos faz refletir: qual será o futuro que nos espera? 
 ”Um determinado produto, enquanto no Brasil fabrica-se um milhão de unidades, uma só fábrica chinesa produz quarenta milhões deste mesmo produto… A qualidade já é bem melhor, e certamente eles tem tecnologia para aumentá-la cada vez mais. E a velocidade de reação é impressionante.
Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de semanas… Com preços que são uma fração dos praticados aqui. Uma das fábricas está de mudança para o interior da China, pois os salários da região onde está instalada são considerados altos demais: 100 dólares… Um operário brasileiro equivalente ganha 300 dólares no mínimo, que acrescidos de impostos e benefícios representam quase 600 dólares. Quando comparados com os 100 dólares dos chineses, que recebem praticamente zero benefícios, estamos perante uma escravidão amarela. Hora extra? Na China…? Esqueça!!! O pessoal por lá é tão agradecido por ter um emprego que trabalha horas extras sabendo que não vão receber nada por isso…
Atrás dessa “postura” está a grande armadilha chinesa. Não se trata de uma estratégia comercial, mas sim de uma estratégia “de poder” para ganhar o mercado ocidental. Os chineses estão tirando proveito da atitude dos ‘marqueteiros’ ocidentais, que preferem terceirizar a produção ficando apenas com o que ela “agrega de valor”: a marca.
Dificilmente você adquire atualmente nas grandes redes comerciais dos Estados Unidos um produto “made in USA“. É tudo “made in China“, com rótulo americano. As empresas ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por centavos e vendendo por centenas de dólares… Apenas lhes interessa o lucro imediato e a qualquer preço. Mesmo ao custo do fechamento das suas fábricas e do brutal desemprego. Enquanto os ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto prazo, a China assimila essas táticas e tecnologias, criando unidades produtivas de alta performance, para dominar no longo prazo.
Enquanto as grandes potências mercadológicas ficam com as marcas, os “designs” e as grifes, os chineses estão ficando com a produção, assistindo, estimulando e contribuindo para o desmantelamento dos já poucos parques industriais ocidentais. Em breve não haverá mais fábricas de tênis ou de calçados pelo mundo ocidental. Só na China. Então, num futuro próximo, veremos os  chineses aumentando os seus preços, gerando um “choque de manufatura”, como aconteceu com o petróleo nos anos 70. Então, o mundo perceberá que reerguer as suas fábricas terá um custo proibitivo e irá render-se ao poderio chinês. Perceberá que alimentou um enorme dragão e acabou refém do mesmo. Dragão este que aumentará gradativamente seus preços, já que será ele quem ditará as novas leis de mercado, pois quem tem o monopólio da produção é quem manda. A China possuirá as fábricas, inventários e empregos, e vai regular os mercados . Iremos  assistir a uma inversão das regras do jogo atual, que terão nas economias ocidentais o impacto de uma bomba atômica… chinesa. Nessa altura em que o mundo ocidental acordar poderá ser muito tarde. Nesse dia, os executivos lembrarão com saudades do tempo em que ganhavam dinheiro comprando “balatinho dos esclavos” chineses, vendendo caro suas “marcas-grifes” aos seus conterrâneos. E então, entristecidos, abrirão suas “marmitas” e almoçarão as suas marcas que já deixaram de ser moda e, por isso, deixaram de ser poderosas, pois, foram todas copiadas…. “.
Falamos de produtos chineses, mas poderíamos estar falando de serviços indianos, hoje líderes na área de software pagando $ 1000 por um PHd em Matemática e Computação (não é por acaso que os maiores fabricantes de software do mundo estão na Índia), enquanto que no Brasil um programador iniciante já recebe cerca de $ 1500 mais encargos.  
Onde está a ligação da crise econômica que assola o mundo, especialmente a Europa, onde o custo da mão de obra é alto, os benefícios sociais imensos e a produtividade cada vez mais baixa (hoje um Francês trabalha cerca de 34 horas semanais buscando chegar a 30). Será que a ruptura desse modelo não foi causada pela concorrência a que esses países foram submetidos? 
O mundo moderno como o conhecemos produzindo riquezas foi baseado em muito trabalho, pleno emprego e consumo. Hoje para os ocidentais ficou o consumo, para os orientais a força de trabalho produtora de riquezas. É lógico que o modelo não se sustenta. A perda de folego da economia chinesa provavelmente está ligada a crise econômica, está faltando consumidores.  


sábado, 17 de março de 2012

A recuperação da economia mundial já começou?


Há sinais tentadores de boas notícias na economia mundial. Nos Estados Unidos, empresas estão contratando mais e consumidores estão gastando mais. A recessão na zona do euro está se mostrando mais suave do que o esperado. A reestruturação da dívida da Grécia, a primeira economia desenvolvida a aplicar uma moratória em 60 anos, foi aprovada sem problemas. Celebrados pelos sinais de recuperação, e aliviados por terem evitado um desastre (especialmente na Europa, que no final do ano passado parecia à beira de uma calamidade comparável a da Lehman Brothers), os mercados financeiros têm subido de forma constante. O índice MSCI de ações globais aumentou em quase 9% desde o início do ano, e em 20% desde os sua baixa em outubro do ano passado.


Depois de um período bastante sombrio, não é surpresa que os espíritos do mundo animal estejam começando a saltar novamente. No entanto, há boas razões para manter a cautela com tamanho otimismo. O crescimento mundial, diminuído pelas economias emergentes menos efervescentes, e pela recessão na Europa, ainda deve ser mais lento do em 2011.
E ainda há grandes riscos lá fora. Em várias ocasiões desde a crise financeira de 2008, as esperanças dos investidores de um crescimento sólido e duradouro foram adiadas – seja pelo azar (aumento dos preços do petróleo), má política (uma enorme austeridade orçamental de maneira muito rápida), ou a triste constatação de que as recuperações após o confisco de ativos são geralmente fracas e frágeis. Se as tensões relativas ao programa nuclear do Irã crescerem, por exemplo, um choque na oferta de petróleo poderia causar caos novamente. Muito coisa ainda pode dar errado.
Menos depressão, mas nada de boom
Convenientemente para um presidente candidato à reeleição em novembro, os sinais mais claros de recuperação estão nos Estados Unidos. A boa notícia é, ao mesmo tempo, cíclica, com a diminuição do desemprego estimulando a renda e os gastos; e estrutural, já que tudo indica que as terríveis consequências da crise imobiliária estão diminuindo. Exclua o trabalho temporário envolvido na realização de censo dos Estados Unidos de 2010, e mais empregos foram criados nos três meses desde novembro do que em qualquer período de três meses desde 2006. O desemprego e o subemprego estão caindo. Os preços das casas continuam em baixa, mas preços na construção e nos imóveis começaram a subir. O crédito dos consumidores está crescendo e o aperto fiscal diminuiu, graças a uma flexibilização dos orçamentos estaduais e da extensão do Congresso dos cortes de impostos temporários até o final do ano.
Nada disso remete aos tempos de boom. Para o ano como um todo a economia americana provavelmente irá crescer em torno da sua taxa tendencial de cerca de 2,5%. Isso é muito menor do que o esperado após uma recessão normal, mas depois de crises financeiras, quando os consumidores estão sobrecarregados de dívidas, recuperações tendem a ser anêmicas. Esse nível de crescimento não vai baixar a taxa de desemprego rapidamente, mas já representa uma melhoria em relação a 2011 e, mais importante, poderia ser o primeiro passo para uma recuperação auto-sustentável, graças ao círculo no qual um aumento no crescimento do combate ao desemprego leva a aumento dos gastos do consumidor, que por sua vez devem gerar mais empregos.
A Europa, pelo contrário, continua distante da recuperação. Há a boa notícia é simplesmente que as coisas não estão tão ruins quanto poderiam estar. Graças à oferta maciça de liquidez aos bancos oferecida pelo Banco Central Europeu (BCE) sob a nova gerência de Mario Draghi, tanto um colapso financeiro quanto uma desagradável crise de crédito parecem ter sido evitados. O resultado é uma recessão rasa da qual a Alemanha pode escapar completamente. Para outros, entretanto, ainda não está claro que o crescimento virá. A maioria dos países europeus, particularmente aqueles na periferia da zona do euro, está impondo austeridade em suas economias para baixar os seus déficits. As reformas estruturais que estão sendo introduzidas para ajudar a impulsionar o crescimento vão levar tempo para ter muito efeito.
Mas enquanto se mantiver superficial, a recessão europeia causará danos limitados sobre o resto do mundo. E isso é uma razão importante pela qual a perspectiva para muitas economias emergentes é melhor do que era há alguns meses. O crescimento desacelerou acentuadamente em muitas economias emergentes, da China ao Brasil, já que a política monetária mais apertada abalou os gastos domésticos. Mas um colapso na Europa poderia provocar uma desaceleração muito mais profunda no mundo emergente, uma vez que as exportações despencaram e o capital estrangeiro despareceu. Com uma catástrofe da zona do euro fora da mesa, pelo menos por agora, os fluxos de capital para países emergentes estão subindo e economias orientadas para a exportação (especialmente na Ásia) estão começando a acelerar novamente.
A China é a exceção: seus valores comerciais recentes foram surpreendentemente desapontadores. Mas mesmo lá, as perspectivas para o resto do ano são melhores do que as notícias recentes sugerem. Isso porque uma queda de boas-vindas na inflação abre espaço para que o governo chinês alivie a política monetária e fiscal, mesmo que restrições sobre a especulação imobiliária permaneçam. O governo não permitirá uma desaceleração muito acentuada, já que a mudança da liderança na China neste ano coloca como prioridade a manutenção da estabilidade social.
A última cruzada
Os países europeus precisam parar de se concentrar tão intensamente na austeridade e, ao invés disso trabalhar mais para gerar crescimento. As injeções de liquidez do BCE conseguiram ganhar tempo para os governos endividados, mas para que o alívio da zona do euro seja permanente, a região precisa construir instituições que permitam a responsabilidade solidária por dívidas governamentais se equilibrem com a disciplina fiscal.
A prioridade norte-americana deve ser a de elaborar um plano de médio prazo que coloque o déficit orçamental numa trajetória descendente, sem extinguir a recuperação. Não há, infelizmente, qualquer chance de que isso aconteça antes da eleição presidencial de novembro. A economia da China continua a ser excessivamente dependente do investimento e do consumo doméstico. Ao invés de incentivar a construção de estradas e ferrovias, qualquer estímulo em 2012 deve promover moradias baratas e salários mais elevados, bem como pensões e gastos com a saúde.
As razões para o otimismo são reais. Mas se os responsáveis pelas políticas errarem novamente, a recuperação pode ir por água abaixo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

AVANÇAMOS POUCO EM 5 ANOS



A China colocou mais alguns cavalos de vantagem sobre os demais países no quinquênio de 2008 a 2012.

Estamos começando o quinto ano da chamada Grande Recessão, iniciada com o estouro da bolha em 2008.

Os EUA ainda apresentam uma recuperação manufatureira fraca, sem retornar sequer aos níveis pré-crise.

Salvam-se pelo avanço do agronegócio, das suas indústrias "criativas" e de alta tecnologia, e dos serviços ligados à demanda do governo, pelo enorme déficit federal, inclusive das guerras externas.

Do outro lado do Atlântico, a Europa evitou uma queda livre pela vitalidade competitiva da indústria alemã, bem como de alguns setores de ponta nos países mais bem organizados da área, como Suécia, Finlândia, Noruega e Holanda, entre outros da parte setentrional rica da zona do euro.

Mas o melhor dos mundos para a Europa em 2012 ainda será evitar o colapso da sua economia regional. No caso do Japão, o resultado está longe de ser o pior, no time dos países estancados. Crescerá este ano.

As esperanças da demanda mundial em 2012 continuam voltadas para a Ásia, com a China no centro, e a Índia ocupando um espaço crescente nesse conjunto.

Os últimos cinco anos, incluindo 2012, farão enorme diferença a favor dos asiáticos, campeões de crescimento, dos quais estamos apenas tomando carona. 
É, para nós, o "bônus China", uma explosão de demanda e de preços pagos pelas commodities brasileiras, minerais e agrícolas, que coincidiu matematicamente com a era Lula, estendendo-se agora ao período Dilma.

O Brasil aproveitou parcialmente este bônus. Acelerou a inclusão social através do crédito consignado, das bolsas assistenciais e dos gastos correntes de governo.

Os dólares das commodities fecharam o buraco da dívida externa, possibilitando também ao brasileiro virar o consumidor mais cobiçado dos paraísos de consumo, em Miami, Nova York, Londres, Madri, e até na Ásia. Autos importados, o sonho de consumo dos brasileiros, saltaram à frente da produção local.

O resumo da "Grande Recessão", ao final deste ano, será o seguinte: em números redondos, a China terá avançado 60%; enquanto o conjunto da Ásia e India, cerca 50%; e os países de alta renda, apenas 3%, ou seja, a recessão foi para os ricos! Mas, e o Brasil, a América Latina? Estes ficarão a menos do meio caminho entre o extraordinário avanço dos asiáticos e a formidável recessão dos países ricos. 

O crescimento acumulado do Brasil, no quinquênio, não passará de 20%, se tanto, só um terço do avanço chinês e apenas em linha com a média mundial. A América Latina, idem. 

Não devemos morrer de amores por esse resultado. O Brasil perde muito, em termos relativos, ganhando espaço, exclusivamente, sobre quem está em crise aguda ou estagnado.

O show continua sendo comandado de fora do Brasil e da nossa região. Tivemos muita sorte com o episódio das commodities em alta, mas fizemos e fazemos vista grossa para os ganhos potenciais de produtividade alcançáveis caso fosse implantado no país um modelo econômico de fato racional e que capitalizasse a base da sociedade brasileira.

Por enquanto, só estamos endividando, e muito rápido, a base da nossa população. Não é o que deveria nos interessar a longo prazo.

Fonte: Brasil Econômico - Paulo Rabello de Castro , presidente do Conselho Estratégico da Fecomercio

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Fidelity Investments Agrees: Africa Could be the Next Big Growth Story



SEPTEMBER 19, 2011


Fidelity Investments Agrees: Africa Could be the Next Big Growth Story

In a recent article (found here) the Fidelity Viewpoints series provides a rationale for investors to consider Africa in their portfolio allocations. As noted in the article, there are a number of sectors in Africa that look compelling from both a growth and a diversification perspective. In addition, the article points out that the secular and economic trends in Africa should merit investors’ further consideration.

Although the opportunity for investing in Africa is becoming more widely understood, it is still relatively difficult to find a pure-play investment opportunity in the Continent. In fact, while a handful of funds many have exposure to Africa, we at Nile Capital Management believe that offering an actively managed, pan-Africa mutual fund makes us unique. As you can see in our most recent Fund Fact sheet Nile Capital is invested across Africa, and seeks opportunities throughout the Continent. This is in contrast to other funds where an allocation to African countries outside of South Africa, and at times Egypt, is still relatively rare. In reality, while Fidelity’s manager may speak favorably of the opportunities in Africa’s frontier, less than half of their fund’s exposure is in Africa, with the substantial majority of that Africa exposure allocated exclusively within South Africa.

Nile Capital is truly pan-African, investing in what we see as many of the greater opportunities in Africa’s frontier markets. We seek to invest in opportunities which capture the growth of the consumer class, the demand for infrastructure, and global interest in natural resources. We believe that Nile’s fund vehicle is well positioned to truly participate broadly in Africa's growth. Nile Capital Management’s expertise and focus on the African continent provides investors access to the Continent's potential for growth.
Nile Capital Management, the Advisor to the Nile Africa series of funds, is a New York-based asset management firm with in-depth investment expertise that covers the entire African continent, from Cairo to Cape Town. By focusing on Africa, the company seeks to identify and capitalize on the best investment opportunities in the continent and expand investors' access to emerging/frontier markets. Additional information is available at www.nilefunds.com.

sábado, 17 de setembro de 2011

Casamento grego e Oktoberfest com samba e twist



As festas gregas, especialmente as de casamento, costumam ser muito animadas. O casamento monetário da Grécia com a Comunidade Europeia não foi diferente: foram vários anos de pura euforia.
O país teve a oportunidade de surfar uma grande onda de juros reduzidos, pois pegou carona na credibilidade alemã. Mas os deuses do Olimpo se esqueceram de ensinar a seu povo lições básicas de economia.
Como Ícaro, os gregos pensaram que era possível voar cada vez mais alto. Ignoraram os alertas de Dédalo – e, como seu filho, desabaram rumo ao mar. Quando a fase de bonança acabou, os gregos se viram com um governo totalmente falido após anos de gastança irresponsável. Sem uma moeda própria, ficaram sem a tradicional válvula de escape para tais crises: desvalorização e inflação. Resta a opção do divórcio litigioso.

Ícaro tentou voar alto demais e o calor do Sol derreteu a cera que colava sua asa (Reprodução/Internet)
Mas os gregos não desistiriam tão facilmente assim. Antes de assinar o divórcio, a Grécia ainda contava com uma cartada: chantagear seus parceiros com o risco de doença contagiosa. Se a Grécia desse o calote em suas dívidas, isso poderia produzir uma corrida bancária na região toda. Caberia a Alemanha, portanto, assumir o passivo e bancar a conta da farra grega.
Acontece que alemão não gosta da ideia de pagar pelo erro dos outros (alguém gosta?). Sua economia, após reformas responsáveis, estava indo de vento em popa. O Oktoberfest tinha tudo para continuar. Mas antes de outubro vem setembro, mês das grandes crises. E a Grécia apareceu para estragar a festa.
O agravamento da crise chegou a patamar tão sério que autoridades alemãs começaram a falar abertamente na hipótese de expulsão da Grécia da comunidade. As crescentes incertezas geraram enorme volatilidade nos mercados. O euro, apesar da intervenção de alguns governos, perdeu finalmente o piso de US$ 1,40. Os bancos europeus despencaram, e o spread interbancário na região disparou, denotando total falta de confiança entre os bancos.
O risco de uma crise da magnitude de 2008 voltou a assombrar os mercados. A Itália enfrentou dificuldade na rolagem de suas dívidas, tendo que pagar taxa maior. Dois grandes bancos franceses foram rebaixados pela Moody’s. E o BCE teve que disponibilizar linhas em dólar para alguns bancos europeus, pois o mercado americano está quase fechado para eles. O mal-estar é geral, e todos parecem à espera de um milagre que salve a Europa.
Todos os olhares se voltam para a Alemanha, única em condições de matar no peito o problema. Mas a demora em tomar alguma atitude mais agressiva fez com que o tamanho do problema atingisse outra dimensão. Um calote grego desorganizado provavelmente levaria a uma corrida bancária na região. A Itália corre o risco de afundar junto. Alguns chegaram a sonhar com uma ajuda chinesa para reverter esta situação. Sonhar é barato.

Clima de Oktoberfest acabou na Alemanha (Reprodução/Internet)
Enquanto o clima de racha geral toma conta da Europa, o Fed estuda a possibilidade de uma Operação Twist: comprar títulos longos e vender títulos curtos, para pressionar a taxa longa sem elevar o balanço já deveras esticado do banco. O problema é que as taxas de dez anos já estão em 2% ao ano. Reduzi-las na marra não vai resolver nada. A sombra do caso japonês parece cada vez maior, ofuscando as “brilhantes” idéias do “iluminado” Bernanke.
No Brasil, sob o comando do DJ Guido Mantega e seu colega Alexandre Tombini, o Copom cortou a taxa de juros com base na deterioração do quadro europeu. Para quantificar o efeito da piora do cenário externo, a autoridade monetária fez uso de um modelo de equilíbrio geral dinâmico estocástico, denominado SAMBA (“Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach”). Mas, a despeito de seu verniz científico, a verdade é que ele não passa de um modelo altamente impreciso, repleto de variáveis estimadas e poucas amostras. Em linguagem mais clara: chute.
E assim chegamos a este tenso momento para os mercados. O casamento grego indo para o espaço, o Oktoberfest chegando ao fim antes de outubro, todos torcendo para que o BCE garanta mais liquidez para preservar a festa, o Fed tentando dançar o Twist e nosso BC apelando para o samba do crioulo doido. Como essa loucura toda vai acabar?
Não tenho bola de cristal, naturalmente. Mas arrisco dizer que o próprio euro, um projeto político acima de tudo, corre risco de vida. Para salvá-lo, muitos pressionam por maior integração na região, ou seja, a Alemanha pagando a fatura dos gregos e romanos. O risco é o tiro sair pela culatra, e a Alemanha cansar disso tudo e pular fora de vez. Divórcio custa caro, mas pode ser melhor que viver num casamento infernal.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Destruindo a economia americana




Por Stephen Kanitz

Honestamente não estou acreditando no que estou vendo nos Estados Unidos.
Intelectuais ou "pilotos" estão derrubando o "avião" Estados Unidos.
Nenhum avião cai por um único problema. A economia americana era razoavelmente forte para aguentar a pior tempestade.
Mas quando os pilotos embicam, saia de baixo.
Começando pelo diagnóstico.
Erre no diagnóstico de uma doença séria, e você seguramente irá morrer.
Pelos remédios equivocados, sem falar do problema não tratado.
Peço aos meus leitores médicos para prestarem atenção.
Se o problema inicial foi o mercado imobiliário, todo médico iria se concentrar nele, e não nos efeitos colaterias como hipertensão, febre e depressão.
Mas o mercado imobiliário está largado, e piorando, óbvio.
O diagnóstico era que o SubPrime, empréstimos para os 20% mais pobres da população, que detêm 10% da renda, causaram o problema.
Só que metade destes pobres não compram casas, alugam, e portanto 10% de 10% é somente 1% da renda. Insuficiente para derrubar alguém.
Além do mais, pobre compra casa de US$ 60.000 e rico compra casa de US$ 600.000, ou seja 10% da população comprando casas que eram 1/10 do preço.
Vocês realmente acham que o Sub Prime era o grande problema? Mas basta dar um Google e ver como todo economista americano acha que sim.
Portanto, está na hora de olhar porque os ricos não estão comprando casas.
E não porque 1% não consegue pagar suas dívidas.
Por que os ricos não estão comprando casas?
Ricos nos Estados Unidos pagam 42% da sua renda em impostos, por isto incentivos fiscais para os ricos são sempre bem vindos pela direita.
O incentivo fiscal, que gerou esta crise toda, e que já escrevi n vezes neste blog, é a dedução dos juros hipotecários na compra de uma casa.
Fazendo os cálculos, com juros de 6%, 80% de uma casa de rico acaba sendo pago pelo governo, por isto o setor era considerado sem risco bancário, bastava pedir 20% de entrada.
Então, quando Bernanke, Prof. Emérito, o maior estudioso da Crise de 1929, reduziu os juros para 3%, quanto da casa será agora paga pelo governo?
Metade, ou seja, Bernanke dobrou o custo efetivo das casas para os ricos que consomem 40% das casas, e piorou o problema inicial.
O piloto vai matar o paciente? Vai.
Como economistas não ouvem ninguém a não ser médicos, descubram quem são os médicos do Bernanke, e expliquem tudo isto que dá para ser escrito logicamente numa única página.
Me aflige ver destruirem os Estados Unidos e não poder fazer absolutamente nada.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Veja como as economias mundias devem se comportar em 2011


O custo de controlar a dívida da Irlanda para evitar a inadimplência já é maior do que o custo para controlar a dívida da Argentina. Os swaps de títulos podres argentinos de 5 anos  (CDS, em inglês) se reduziram, enquanto  os  swaps irlandeses tiveram um aumento de 609 pontos, a terceira maior pontuação do mundo, atrás apenas de Grécia e Venezuela.

As previsões de crescimento do PIB para 2011 não são muito melhores para alguns países europeus. De acordo com a Economist Intelligence Unit, uma empresa afiliada ao Economist, os PIBs da Irlanda e da Grécia vão diminuir em 0,9% e 3,6%, respectivamente. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha se encontram entre os países que terão um crescimento mais lento este ano.
Em contrapartida, depois de evitar uma recessão em 2008 e 2009, e aproveitar ao máximo a recuperação da economia mundial em 2010, o Catar deverá crescer 15,8% em 2011. Este forte crescimento é em grande parte atribuído a projetos para produção de gás natural liquefeito (GNL), e a uma política fiscal expansionista, focada em infraestrutura. China e Índia também prevêem mais um ano de forte crescimento, respectivamentede 8,9% e 8,6%.