Os bancos estão 'jogando para frente' as dívidas das companhias brasileiras com o claro objetivo de conter seus níveis de provisionamento para fazer frente ao aumento cada vez maior dos calotes.
Depois de verem o colchão para perdas, as chamadas PDDs, crescer quase R$ 16 bilhões no ano passado, as instituições privadas reforçaram suas campanhas de renegociação, incluindo até dívidas que ainda não venceram.
Como resultado, o saldo de créditos renegociados (acima de 30 dias) de Bradesco, Itaú Unibanco e Santander saltou 13% no fim de dezembro, na comparação com um ano atrás, e ultrapassou os R$ 40 bilhões.
Com muitas empresas, inclusive as grandes, já operando com queima de caixa e sem liquidez para honrar vencimentos mais curtos, os bancos estão alongando pagamentos atrasados e sendo mais flexíveis na renegociação com os clientes, na tentativa de evitar que a lista de companhias em recuperação judicial engrosse mais.
"À medida que os clientes vendem menos, têm mais dificuldade de manter seus compromissos e há procura para reacomodar empréstimos a um novo perfil de fluxo de caixa. Isso leva naturalmente à ampliação de renegociação de crédito", disse Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, em conversa com jornalistas, nesta semana.
O grupo de empresas brasileiras em dificuldades não para de crescer, na medida em que a economia brasileira não dá sinais de que já chegou ao fundo do poço, o que leva os custos de captação a patamares inviáveis.
Do final do ano passado para cá, a situação deixou de ser exclusividade de um único setor ou dos grupos envolvidos na Operação Lava Jato.
Empresas como Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Usiminas, PDG e BR Pharma estão há alguns meses em processo de renegociação de suas dívidas, situação ainda mais crítica no caso das pequenas e médias empresas.
Apesar da intensa elevação da carteira de crédito renegociada, os bancos avaliam o movimento como "natural" e associado à fraqueza da atividade econômica.
"Ciclos de crédito são sucedidos por tempos duros e maduros. Para quem merece confiança, reperfilamos e reestruturamos sua dívida", afirmou Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, à imprensa na semana passada.
O executivo de um grande banco lembra que os créditos em atraso são reclassificados e provisionados automaticamente, conforme as regras do Banco Central.
No entanto, a renegociação, o quanto antes ocorrer, evita não só o agravamento do risco, bem como o aumento das despesas com provisões, chamadas de PDDs.
Fonte: Exame