domingo, 3 de fevereiro de 2013

Carreira: 2013 marca a ascensão do especialista em experiência do usuário


Roberto Masiero lembra-se bem do ano de 2011, quando ficou claro para ele que a concepção de uma aplicação móvel era um esforço consideravelmente diferente do que projetar uma aplicação para desktop.

Como chefe dos laboratórios de inovação da empresa de terceirização ADP, que processa 10 bilhões de dólares de folhas de pagamento, Masiero gerenciou a equipe de engenharia encarregada de criar o ADP Mobile, versão móvel da aplicação de gestão de capital humano da companhia.
"Começamos com uma lista de cem recursos que consideramos incríveis", lembra Masiero. Mas o entusiasmo de sua equipe acabou depois que um grupo de designers de experiência do usuário (UX, na sigla em inglês) de uma agência externa foi contratado para participar do projeto. Esse time considerou os recursos irrelevantes para os usuários móveis, argumentando que tantas opções iriam confundi-los.
Ao final, os designers reduziram a lista de recursos para menos de 80% do projetado inicialmente. "A mensagem deles era simples: menos é mais", afirma Masiero. Em um aplicativo móvel, é melhor fornecer 20 itens de informação mais importantes do que forçar as pessoas a navegar por cem recursos que talvez nunca usem. "Aprendemos que é preciso abrir mão da perfeição em nome da usabilidade."
Masiero, assim como outros líderes de tecnologia, percebeu que na era da mobilidade, áreas de TI que não têm um especialista em experiência do usuário vão enfrentar desafios diante da concorrência. 
Os desenvolvedores de interface de usuário (UI, na sigla em inglês) e experiência do usuário estão em alta, afirma Shane Bernstein, diretor da QConnects, empresa californiana de recrutamento digital. E esse é um fenômeno relativamente recente, completa. Entre 2010 e 2011, a QConnects observou aumento de 25% na busca por designers de UX. Entre 2011 e 2012, o aumento foi de 70%.
Os salários também estão saltando. Recrutadores apontam que os salários iniciais desses talentos variam de 70 mil dólares a 110 mil dólares nos Estados Unidos. O Creative Group, divisão da Robert Half Technology, especializada na seleção de talentos, começou a acompanhar a demanda por designers de UX de forma separada em sua pesquisa salarial anual em 2011. Como resultado constatou que os salários subiram 6,2% em 2012 e a companhia espera salto de 4,8% em 2013.
Graças à Apple, usuários esperam perfeição
Na linguagem do design, a interface de usuário é o que o usuário vê. Já a experiência do usuário é como o aplicativo se comporta. Recrutadores e profissionais afirmam que os designers precisam saber os dois elementos. Ou seja, devem se concentrar não apenas em como um projeto parece, mas no "wireframe" todo da aplicação.
Afinal, o que está impulsionando a demanda por tais habilidades? Muitas pessoas na indústria dão o crédito (ou a culpa) à Apple, com a sua atenção quase fetichista de como hardware, design e interface devem funcionar em sintonia. "Agora, as pessoas esperam que tudo o que eles têm funcione da mesma forma que o iPhone", destaca Matt Miller, CTO da CyberCoders, companhia de recrutamento nos Estados Unidos.
Com a explosão da computação móvel o cenário foi intensificado. "Com os dispositivos móveis se tornando onipresentes, temos de servir 30 milhões de usuários, de um funcionário em um canteiro de obras a um piloto de avião. A empresa deve criar um projeto para que a experiência seja acessível a todos, enquanto continua a fornecer uma sensação de exclusividade”, comenta Masiero.
Alta tecnologia
Com o design na vanguarda da mente das pessoas, especialistas de UX estão sendo caçados pelas empresas. A demanda é alta, mas a oferta não está no mesmo nível. Um dos motivos é a dificuldade de encontrar um profissional que reúna capacidades de programação, design e comportamento humano. "Quando você encontrar essa pessoa, me avise", brinca Masiero.
"Fazemos um pouco de pesquisa de mercado e um pouco de psicologia. Usamos diferentes metodologias juntas", diz o designer de experiência do usuário, Whitney Quesenberry, que dirige sua própria agência nos Estados Unidos. Sua empresa tem realizado trabalhos para Novartis, Siemens, Dow Jones e Eli Lilly. "UX é como programação", compara.
Donna Farrugia, diretora-executiva do The Creative Group, agência de criação, insiste que o bom talento da área é aquele com capacidade de combinar design e layout com habilidades tecnológicas que abrangem HTML e JavaScript. Características reunidas por Michael Beasley, designer para marketing de internet da agência Pure Visibility, nos Estados Unidos. Ele cursou Inglês e música pela Universidade de Michigan, e depois obteve um diploma de mestrado em Interação Homem-Computador.
"Foi onde conquistei minha habilidade para atuar com design de interface", diz Beasley. "A abordagem multidisciplinar me ensinou cognição humana, design, e princípios de usabilidade. Também tenho um bom entendimento de como funcionam as organizações e os fluxos de informação. Isso me fez uma pessoa completa", relata.
Esse perfil de profissional tem um bom alinhamento com gerentes de TI como Masiero, para quem um bom design vai além de cantos arredondados em ícones. "Queremos alguém que entenda o modelo mental do usuário e traduza isso para o comportamento da aplicação. Ele tem de sempre pensar em fazer o usuário confortável”, explica.
“Designers que entendem interação humana estão um passo à frente dos outros", concorda Donna. "Eles são peças raras e preciosas."
Contar com um time próprio de UX?
No mundo dos negócios, quase tudo hoje depende do sucesso de aplicações móveis. Por isso, a maioria das empresas sente que não pode renunciar ao desenvolvimento até faculdades ou escolas profissionais formarem profissionais com a combinação ideal de design e sensibilidades de codificação.
Enquanto isso, para lidar com a falta de mão de obra na área, as organizações formam equipes multidisciplinares para substituir um especialista em UX. "Um designer pode não ser capaz de programar, mas ele deve ser capaz de ter uma conversa razoável com um programador para que compreenda o impacto de uma decisão de projeto", aconselha Quesenberry.
Donna tem observado a formação de equipes híbridas nos últimos meses. "Pessoas do lado técnico estão interagindo com mais frequência com a equipe de front-end para entender usabilidade e cenários de uso”, constata.
"Um designer realmente criativo pode ajudar a organização a obter grandes saltos de qualidade. Mas o lado quantitativo é muito importante. Designers precisam se sentir mais confortáveis com o lado técnico para construir essas habilidades”, conclui Beasley.

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