A China apresenta mudanças estruturais
Terça-feira 25/05/2010
Analisar a economia chinesa é uma tarefa complicada, por sua complexidade e falta de transparência.
A China apresenta mudanças estruturais, experimentando tardiamente sua revolução industrial. Com mão de obra barata e abundante e uma poupança gigantesca, os ganhos de produtividade garantem uma vantagem comparativa no modelo de exportação adotado pelo país. Mas esse modelo apresenta suas falhas, e alguns pilares não são sustentáveis.
O fato de quatro bancos estatais concentrarem o crédito faz com que as decisões de investimento tenham um peso político elevado demais. Além disso, o foco obsessivo no crescimento tem feito com que governos locais adotem incentivos errados, com investimentos pouco rentáveis ou mesmo desnecessários. Cada província precisa apresentar números crescentes e existem casos até de “cidades fantasmas”. Construir casas e pontes onde sequer há demanda, eis um efeito perverso do modelo chinês.
Quase toda bolha especulativa parte de fundamentos sólidos.
A trajetória chinesa possui aspectos econômicos interessantes, e seu espetacular crescimento pode criar o ambiente propício ao exagero. Foi assim com as ferrovias no século XIX, o rádio nos anos 1920 e a internet recentemente.
Há também, por trás de muitas bolhas, uma fé cega na competência das autoridades.
Muitos acreditam que o governo chinês será capaz de controlar seus excessos. Mesmo com inflação crescente, por conta de uma expansão monetária de dois dígitos, os investidores assumem que as medidas administrativas serão suficientes para conter o avanço dos preços, sem precisar de um forte aumento dos juros.
A taxa de câmbio artificialmente controlada é outro pilar frágil do modelo. Taxas fixas estiveram por trás de crises como a da Argentina e da Ásia. O crédito excessivo, estimulado pela baixa taxa de juros, planta as sementes dos problemas futuros. Novos especuladores são atraídos pelo crescimento da economia, e eles adotam uma postura negligente em relação aos riscos, contando sempre com o resgate do governo em caso de crise.
Há claros sinais de espuma na economia chinesa, sobretudo em infraestrutura e no setor imobiliário. Alguns aeroportos menores, por exemplo, operaram com a metade da capacidade no ano passado. Existem indícios de excesso de capacidade na construção de navios, aço, cimento e ferro. A corrupção parece galopante, o que é esperado quando o governo concentra tanto poder e recurso.
Governos locais criaram veículos fora do balanço para garantir financiamento aos investimentos em suas regiões, o que pode gerar problemas sérios, caso a economia passe por uma desaceleração. O preço das casas sobe em parar, mesmo em relação à renda. Quando se observa os principais centros, como Xangai e Beijing, a situação é ainda mais alarmante, com aumentos de até 60% em apenas um ano. Mais de 20% dos empréstimos bancários foram destinados a esse setor.
Outro indicador importante é o excesso de otimismo nas projeções da maioria dos analistas. Livros são escritos sobre como a China será rapidamente a maior potência mundial, superando os Estados Unidos e a Europa. O “modelo chinês” passa a ser sinônimo de eficiência. O acúmulo de reservas, acima de US$ 2 trilhões, passa uma ideia de invencibilidade. Tudo isso nos remete à euforia com o Japão nos anos 1980.
Caso a economia chinesa realmente esteja passando por uma fase de espuma, os investidores precisam ficar bastante alertas aos riscos que isso representa. Afinal, a participação chinesa no consumo das principais matérias-primas é significativa. Dependendo da commodity, a China já representa de 40% a 50% da demanda mundial. Se o crescimento chinês se mostrar insustentável nesses patamares, a queda abrupta na sua demanda fará com que os preços das principais commodities desabem, prejudicando inúmeros países emergentes, como o próprio Brasil. Eis um risco que não pode ser ignorado pelos investidores.
Escrito por: Rodrigo Constantino
Nossa Opinião
Vivemos um longo ciclo de crises. A de 2008, com a explosão da bolha imobiliária dos Estados Unidos, iniciou-se bem antes. Foi fruto da ganância generalizada de grandes e pequenos investidores. Passou-se a acreditar que era possível ficar milionário do dia para a noite hipotecando a sua casa, comprando outras duas (hipotecadas) com o dinheiro do empréstimo da primeira e o resultado deu no que deu. Na ocasião falou-se de falta de regulação, hoje o debate é que o mercado esta excessivamente regulado. Mas todo mundo achava que tudo tinha voltado ao rumo certo. E aí explode a crise grega (ou seria a tragédia grega), que não é só grega é também de Portugal, Espanha, Irlanda e outros menos conhecidos. A crise não é de países, mas sim do Euro. Novamente tentou-se juntar agua e óleo no mesmo recipiente mas todo mundo que fez alguns anos de escola sabe que eles não se misturam, assim o é também com a Economia. Juntar países economicamente fortes com países economicamente fracos não faz todos fortes. Pelo contrário, as diferenças de câmbio sempre foram utilizadas para dar mais competitividade as economias mais fracas. Outras diferenças também podem ser mencionadas: os países da zona do euro que estão bem, são aqueles que seguem a cartilha da vovó, gastar menos do que ganha, os que estão mal .. são os perdulários, que mantém suas contas permanentemente viradas, que tem um funcionalismo inchado, aliás fique preocupado com qualquer país/economia onde o objeto de consumo seja trabalhar para o governo. Algo não vai bem.
Agora temos a China visivelmente pedalando e um monte de economias emergentes penduradas nela. Um novo ordenamento econômico pode estar por vim. Quem se saíra bem? Aqueles que tiverem acumulado nesses anos de bonança "capital intelectual".
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