segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Bermuda, um uniforme carioca no verão





Paulinho Barroso, diretor artístico da Backstage, trabalha de bermuda no calor
Foto: Mônica Imbuzeiro / O Globo

Paulinho Barroso, diretor artístico da Backstage, trabalha de bermuda no calor Mônica Imbuzeiro / O Globo
RIO - Com este calor de “maçarico” que anda imperando na cidade,  trabalhar de terno, gravata e camisa social ou uniforme é um suplício, principalmente para os homens. E quem lida com o público tem um desafio ainda maior: precisa ficar impecável, sem aquelas terríveis marcas de suor na roupa. A solução, já adotada por alguns escritórios, lojas e até salões de beleza da cidade, é liberar o uso de bermudas, calças curtas e camisas de tecido mais leve. Em algumas empresas, vale até calçar um chinelo de dedo e seguir para ralação.
No escritório da empresa Polo Marte, uma start-up de produtos e sites para internet, localizada no Humaitá, o jeito de se vestir dos funcionários lembra muito o dress code dos cariocas que circulam pelo calçadão ou pelas ruas da Zona Sul. O designer Marcelo Gluz, um dos sócios da empresa, não só vai trabalhar de bermuda, como incentiva seus 17 funcionários a se vestirem da maneira confortável. Nada de gravata, sapato social ou calça preta.
— Tem a ver com o clima da cidade e com o estilo do carioca. Neste calor, eu e meus dois sócios usamos bermuda e deixamos sempre uma muda de roupa social num armário. Um deles trabalha até de sandália Havainas. Além de nós três, quase todo mundo usa bermuda diariamente, sem contar que muitos vêm trabalhar de bicicleta e calça com pedal, não combinam — diz Marcelo, cuja empresa edita o site Posto Zero, que tem dicas de roteiros, bares e programas para o carioca
O estilo mais despojado também agrada Pedro Hermeto, advogado e sócio do restaurante Aprazível, em Santa Teresa.
— Trabalhei 11 anos de terno e gravata no Centro da cidade e fiquei com trauma. Além disso, o traje mais leve é coerente com o espaço do Aprazível. Quando tenho uma reunião com cliente ou algum compromisso mais formal, uso calça jeans, mas sempre tenho uma bermuda, ou na mala, ou no próprio restaurante para poder trocar— diz Pedro — Meus colegas do antigo escritório de Direito, quando vêm almoçar aqui, morrem de inveja — brinca.
Na BackStage, produtora responsável, entre outros eventos, pela Árvore de Natal da Lagoa e pelo Festival Vale do Café, a maioria dos funcionários também adere ao modelo mais fresquinho nesta época do ano. Paulinho Barroso, diretor artístico da empresa, acha que tem tudo a ver com o verão carioca.
— Eu acho um absurdo certas empresas que obrigam os funcionários a usaram terno e gravata quando isso não tem a ver com a função que eles exercem — diz Paulinho.
A empresária Ivani Werneck dona do salão Care, em Ipanema, concorda. E por isso decidiu encomendar um uniforme mais fresquinho para os cinco manobristas do seu empreendimento. Eles já tiraram do armário o uniforme (bermuda cargo e blusa, na cor cáqui) e andam sofrendo menos para hora de correr para estacionar ou buscar os carros da clientes.
— Eles antes usavam terno e gravata e, toda vez que chegava o verão, sofriam. Eu viajei para Miami e vi no hotel todos os funcionários usando bermudas, num estilo safári. Quando voltei ao Rio, decidi copiar o estilo. Os manobristas adoraram. Gostaram tanto que nem se importam com as piadinhas que escutam da clientela e dos seguranças e dos funcionários das lojas vizinhas — conta Ivani Werneck.


Um comentário:

LBasile Notes disse...

Olhando para as gravuras de Debret, para as fotografias de Malta, não consigo entender como se trabalhava, se é que se trabalhava naquela época. A herança dos colonizadores nesse ponto foi muito forte e nos vestimos como se fossemos europeus. Na Índia, Austrália e colônias africanas os Ingleses foram muito mais sensatos, para não dizer inteligentes, e adaptaram o vestuário.