segunda-feira, 27 de julho de 2015

Empresas especializadas em compra de ativos financeiros

Fonte Folha de São Paulo
Por: Fátima Fernandes
Assumir o crédito podre -dívida em cobrança judicial e de difícil recuperação- de um banco, indústria ou comércio era considerado algo fora de propósito até há pouco tempo no país. Mas a inadimplência chegou a tal ponto que começam a aparecer empresas interessadas no filão.
Desde que o Banco Central autorizou, por meio da resolução 2493, de 7 de maio de 98, a compra de carteiras de crédito por instituições não-financeiras, pelo menos meia dúzia de empresas já se prepara para disputar esse mercado.
A recém-nascida Fontus, uma filial da MGDK & Associados, consultoria de gestão empresarial, já tem uma uma carteira de crédito de R$ 15 milhões, correspondente às dívidas de 20 mil pessoas, feitas sobretudo com cartão de crédito.
A Folha apurou que os bancos Pactual, Bozano, Simonsen e Goldman Sachs estão em conversas para criar em parceria uma empresa com o mesmo fim. Os créditos que estão negociando ultrapassam R$ 500 milhões.
No caso da Fontus, o porta-fólio de clientes foi adquirido de duas empresas -não reveladas. A carteira de crédito de cartão lhe interessa mais, porque acredita que o inadimplente no cartão tem mais chance de quitar o débito.
A Fontus está negociando a compra de créditos de outras cinco empresas e espera até o final do ano ter em carteira R$ 100 milhões. Ainda neste mês, ela deve sair à caça dos inadimplentes.
A empresa não revela qual o desconto que obtém na compra das carteiras de crédito, tampouco quanto prevê recuperar.
Eduardo Camara, gerente-geral, só diz que a Fontus não quer ser caracterizada como uma empresa de cobrança. “Montamos uma recuperadora de crédito.” Pelas suas palavras, não haverá um cobrador e um inadimplente, mas, sim, um vendedor oferecendo a um cliente meios para que ele efetue o pagamento das dívidas.
O sucesso dessa recuperação, diz ele, está na tecnologia do sistema de análise da carteira, que identifica os clientes que podem ser cobrados e com maiores chances de pagamento. A tecnologia foi montado em parceria com a Softway, especializada em processamento de dados e telemarketing.
“A idéia é trabalhar com clientes que foram bem avaliados antes de receber o crédito, pois esses provavelmente querem acertar as contas”, diz Colin Butterfield, gerente comercial da Fontus.
A empresa estima que as perdas dos bancos e das administradoras com a inadimplência só no cartão de crédito já supera R$ 1 bilhão. “É desse bolo que vamos participar. Queremos pegar a carteira de crédito que até as empresas de cobrança já trabalharam”, diz Malin Lindgren, gerente da Fontus.
A empresa a ser formada entre Pactual, Bozano, Simonsen e Goldman Sachs espera recuperar o crédito das pessoas jurídicas, pois os valores a receber são maiores.
Ela acredita que quem tem dívidas a receber não quer mais gastar tempo e dinheiro correndo atrás do devedor e deixando de lado a atividade principal, que é vender.
O Bozano, Simonsen mostrou que tem interesse nesse mercado ao adquirir em um leilão do Banco do Brasil, no final de junho, um crédito de R$ 250 mil da empresa Matrix, de Brasília, por R$ 57 mil. O desconto foi de 77%.
“Há três anos estamos nos preparando para disputar a compra e a cobrança de créditos de pessoas jurídicas”, afirma Paulo Ferraz, presidente do banco. É um mercado, avalia, que está apenas começando no Brasil, mas deve se expandir muito rapidamente.
Nos EUA, as empresas que disputam esse mercado têm em carteira créditos de aproximadamente US$ 15 bilhões

Um comentário:

LBasile Notes disse...

A partir da regulamentação do Banco Central sobre este tipo de operação, acredito que o mercado finalmente irá crescer de forma sustentável como ocorre em outros países. Estamos prontos para modelar essas operações, aproximando eventuais compradores, de eventuais vendedores.