Passados nove meses de queda da taxa Selic, a produção industrial
continua patinando e a inflação está em alta. O que deu errado?
Indicadores antecedentes da atividade industrial apontam para uma
retomada da produção industrial e do PIB a partir do terceiro trimestre. Isso
indicaria que talvez estivéssemos passando pelo fundo do poço do baixo
crescimento da indústria.
Contudo, a produção industrial caiu 0,5% em relação a fevereiro e essa
queda foi generalizada entre os diversos segmentos. E ainda que seja possível
uma recuperação da atividade industrial na segunda metade do ano, diversos
fatores tendem a inibir essa recuperação, quando ela vier.
O crescimento sustentado da indústria em todo o mundo – e, por
extensão, do PIB – depende hoje mais do crescimento da produtividade que de
qualquer outro fator.
O problema reside no fato de que a produtividade industrial no Brasil
está estagnada.
Junto a isso, vem ocorrendo um crescimento mais acentuado do custo
unitário do trabalho do que da produtividade desse fator na indústria. Essa
elevação do custo laboral tem a ver, em parte, com a rápida expansão do setor
de serviços. Esse setor é o maior empregador da economia e o seu aquecimento
tem mantido os salários altos no segmento e determinando, em parte, os
salários na indústria.
Com baixo crescimento da produtividade do trabalho industrial e alta
no salário
real, não deveria surpreender que a indústria estivesse perdendo
competitividade e que os importados ganhando fatias crescentes nas
despesas dos consumidores: a atividade industrial mostrou um recuo de 3% no
primeiro trimestre do ano enquanto o comércio varejista cresceu 7% em
fevereiro.
Já do lado da inflação, a alta é generalizada. O IPCA mais que
triplicou em abril relativamente a março; o IGP-DI dobrou no mesmo período; o
IPC da Fipe subiu 0,55%; e o Dieese apurou que a cesta básica subiu em 15 das
17 capitais pesquisadas. Em quatro delas (Manaus, Fortaleza, Natal e
Salvador), a alta média foi de 3,25%.
Para fazer face a esse quadro, o governo optou por uma estratégia
calcada em três pilares. A primeira perna do tripé consistiu na redução
acelerada na taxa Selic para induzir a queda da taxa de juros dos empréstimos
dos bancos comerciais, como forma de financiar a compra de máquinas e
equipamentos nacionais. A segunda perna, na redução seletiva da carga
tributária de alguns setores industriais. E a terceira, em intervenções no
mercado de câmbio para desvalorizar o real.
Em seu conjunto, as medidas pretenderiam fortalecer o investimento
industrial e, a partir dele, a retomada das vendas da indústria nos mercados
interno e externo.
No entanto, o que se tem observado até agora é que a expansão do
crédito foi voltada essencialmente para o financiamento do consumo,
especialmente à compra de veículos, beneficiados inicialmente pela redução do
IPI. O fim do benefício fiscal e o aumento da inadimplência cortaram fundo a
produção e as vendas desse segmento.
Além disso, a expansão do crédito público a taxas de juros
favorecidas, especialmente
do BNDES, não tem induzido um aumento expressivo do investimento
industrial.
No primeiro trimestre, a produção de bens de capital caiu 11,4%,
frustrando as expectativas de aumento da produção industrial.
A desvalorização do câmbio, resultado do conjunto de medidas já
tomadas pelo BC, poderá ter efeitos positivos, mas em horizonte mais longo e
de menor eficácia que em outras circunstâncias, dada a fragilidade
da demanda internacional.
Finalmente, a queda da Selic não só não tem se refletido na mesma
proporção na queda das taxas de empréstimo como aparentam ter pedido sua
eficácia como instrumento de fomento ao crescimento industrial. Isso tem a
ver com o aumento do custo laboral e o fraco desempenho da produtividade do
trabalho industrial.
Das três pernas do tripé da política econômica, as intervenções no
mercado de câmbio atingiram seu objetivo de desvalorizar o real e
restabelecer um patamar mínimo para a taxa de câmbio real, indispensável para
retomada das vendas externas da indústria.
O sucesso da política de redução da taxa real de juros dependerá de
uma queda no custo unitário da mão-de-obra vis-à-vis o aumento da
produtividade do trabalho industrial. Não é tarefa para o curto prazo.
Finalmente, a redução seletiva da carga tributária também não produziu os
resultados esperados sobre a produção industrial como um todo.
O grande risco que corremos, diante da frustração com os poucos
resultados obtidos com a política em curso, é o aumento das pressões sobre o
governo para intensificar as intervenções pontuais sobre a economia.
Atendê-las somente agravaria o problema, em lugar de atenuá-lo.
Fonte: Diário do Comercio
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quinta-feira, 17 de maio de 2012
MELHOR NÃO MEXER NO TRIPÉ DA POLÍTICA ECONÔMICA
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