quinta-feira, 17 de maio de 2012

MELHOR NÃO MEXER NO TRIPÉ DA POLÍTICA ECONÔMICA



Passados nove meses de queda da taxa Selic, a produção industrial continua patinando e a inflação está em alta. O que deu errado?

Indicadores antecedentes da atividade industrial apontam para uma retomada da produção industrial e do PIB a partir do terceiro trimestre. Isso indicaria que talvez estivéssemos passando pelo fundo do poço do baixo crescimento da indústria. 

Contudo, a produção industrial caiu 0,5% em relação a fevereiro e essa queda foi generalizada entre os diversos segmentos. E ainda que seja possível uma recuperação da atividade industrial na segunda metade do ano, diversos fatores tendem a inibir essa recuperação, quando ela vier.

O crescimento sustentado da indústria em todo o mundo – e, por extensão, do PIB – depende hoje mais do crescimento da produtividade que de qualquer outro fator. 

O problema reside no fato de que a produtividade industrial no Brasil está estagnada. 

Junto a isso, vem ocorrendo um crescimento mais acentuado do custo unitário do trabalho do que da produtividade desse fator na indústria. Essa elevação do custo laboral tem a ver, em parte, com a rápida expansão do setor de serviços. Esse setor é o maior empregador da economia e o seu aquecimento tem mantido os salários altos no segmento e determinando, em parte, os salários na indústria.

Com baixo crescimento da produtividade do trabalho industrial e alta no salário 
real, não deveria surpreender que a indústria estivesse perdendo competitividade e que os importados  ganhando fatias crescentes nas despesas dos consumidores: a atividade industrial mostrou um recuo de 3% no primeiro trimestre do ano enquanto o comércio varejista cresceu 7% em fevereiro. 

Já do lado da inflação, a alta é generalizada. O IPCA mais que triplicou em abril relativamente a março; o IGP-DI dobrou no mesmo período; o IPC da Fipe subiu 0,55%; e o Dieese apurou que a cesta básica subiu em 15 das 17 capitais pesquisadas. Em quatro delas (Manaus, Fortaleza, Natal e Salvador), a alta média foi de 3,25%.

Para fazer face a esse quadro, o governo optou por uma estratégia calcada em três pilares. A primeira perna do tripé consistiu na redução acelerada na taxa Selic para induzir a queda da taxa de juros dos empréstimos dos bancos comerciais, como forma de financiar a compra de máquinas e equipamentos nacionais. A segunda perna, na redução seletiva da carga tributária de alguns setores industriais. E a terceira, em intervenções no mercado de câmbio para desvalorizar o real. 

Em seu conjunto, as medidas pretenderiam fortalecer o investimento industrial e, a partir dele, a retomada das vendas da indústria nos mercados interno e externo.

No entanto, o que se tem observado até agora é que a expansão do crédito foi voltada essencialmente para o financiamento do consumo, especialmente à compra de veículos, beneficiados inicialmente pela redução do IPI. O fim do benefício fiscal e o aumento da inadimplência cortaram fundo a produção e as vendas desse segmento.

Além disso, a expansão do crédito público a taxas de juros favorecidas, especialmente 
do BNDES, não tem induzido um aumento expressivo do investimento industrial.

No primeiro trimestre, a produção de bens de capital caiu 11,4%, frustrando as expectativas de aumento da produção industrial. 

A desvalorização do câmbio, resultado do conjunto de medidas já tomadas pelo BC, poderá ter efeitos positivos, mas em horizonte mais longo e de menor eficácia que em outras circunstâncias, dada a fragilidade da demanda internacional.

Finalmente, a queda da Selic não só não tem se refletido na mesma proporção na queda das taxas de empréstimo como aparentam ter pedido sua eficácia como instrumento de fomento ao crescimento industrial. Isso tem a ver com o aumento do custo laboral e o fraco desempenho da produtividade do trabalho industrial. 

Das três pernas do tripé da política econômica, as intervenções no mercado de câmbio atingiram seu objetivo de desvalorizar o real e restabelecer um patamar mínimo para a taxa de câmbio real, indispensável para retomada das vendas externas da indústria.

O sucesso da política de redução da taxa real de juros dependerá de uma queda no custo unitário da mão-de-obra vis-à-vis o aumento da produtividade do trabalho industrial. Não é tarefa para o curto prazo. Finalmente, a redução seletiva da carga tributária também não produziu os resultados esperados sobre a produção industrial como um todo. 

O grande risco que corremos, diante da frustração com os poucos resultados obtidos com a política em curso, é o aumento das pressões sobre o governo para intensificar as intervenções pontuais sobre a economia. Atendê-las somente agravaria o problema, em lugar de atenuá-lo.

Fonte: Diário do Comercio

Nenhum comentário: